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Grande Prêmio Presidente Médici de F-1
Durante o governo militar de Emílio Garrastazu Médici, a inauguração de um autódromo dentro do então chamado Centro Desportivo Presidente Médici tinha que ter uma corrida batizada oficialmente de Grande Prêmio Presidente Médici. Sem maiores discussões sobre a egolatria e a puxação de saco em questão, o importante é que, com esse nome, foi realizada a primeira e única corrida de Fórmula 1 do Autódromo de Brasília, no dia 3 de fevereiro de 1974.
Assim como o GP do Brasil em 1972, em Interlagos, o GP de Brasília não contou pontos para o campeonato mundial de F-1, algo que ainda era comum na época – o GP seguinte da categoria mundial foi a “Corrida dos Campeões”, no circuito inglês de Brands Hatch, que também não era parte do campeonato.
Doze carros participaram da prova e, apesar de uma falta de combustível na última volta, a vitória ficou com Emerson Fittipaldi, que também fez a melhor volta da corrida, em 1m51s62, numa média de 176,6km/h.
Além de Emerson, a corrida teve outros dois brasileiros bem conhecidos do público local, por já terem sido vencedores dos Mil Quilômetros de Brasília: Wilson Fittipaldi Júnior, irmão de Emerson, que pegou emprestado na Brabham o carro do piloto titular RIchard Robarts, e José Carlos Pace, piloto da equipe Surtees em seu segundo ano na F-1.
Treinos
O asfalto novo, ainda muito abrasivo e sem borracha acumulada, causou muitos problemas de desgaste para todos os pilotos, desde os primeiros treinos da sexta-feira. Neste primeiro dia, Pace foi o mais veloz.
No sábado a chuva atrapalhou o primeiro dos treinos e parte do segundo, válido para formação do grid de largada. O alemão Jochen Mass, companheiro de equipe de Pace, teve um acidente na curva 1 após a chuva e quebrou o bico do seu Surtees. O sul-africano Jody Scheckter, da Tyrrell, também rodou na pista ainda úmida.
Carlos Pace conseguiu se classificar em quinto lugar, um bom resultado para as limitações do seu Surtees. Wilsinho Fittipaldi, que enfrentou um problema de bateria e não tinha pneus de chuva disponíveis na Brabham para o primeiro treino, conseguiu fazer apenas o sétimo melhor tempo, enquanto seu companheiro de equipe, o argentino Carlos Reutemann, ficou com a pole-position, com uma volta em 1m51s18. Emerson, às voltas com problemas de suspensão e de pneus, ficou com o segundo lugar, a apenas nove centésimos de segundo do argentino.
Corrida
Reutemann pulou na frente na largada, seguido por Emerson e pelo italiano Arturo Merzario, da Iso-Williams, que saíra da quinta posição e ultrapassara José Carlos Pace e Jody Scheckter. Emerson pressionou Reutemann até a sétima volta, quando o argentino cometeu um pequeno erro e permitiu a ultrapassagem do brasileiro.
Daí em diante, Emerson abriu tanto que depois viria a dizer que a corrida ficou até “um pouco monótona”. Na volta 11 Reutemann teve problemas no meio do circuito e seu carro chegou a pegar fogo, e Jody Scheckter passou à segunda posição, mas Fittipaldi estava mais rápido e a distância entre os dois chegou a 17 segundos.
Enquanto isso, José Carlos Pace, com seu fraco Surtees, se segurava na quinta posição até enfrentar problemas – primeiro com o desgaste dos pneus, e depois com problemas num injetor de combustível, o que o obrigou a parar nos boxes duas vezes e perder cinco voltas.
Na última volta, na reta Oposta, atrás dos boxes (logo após a Curva Lequezeq, que viria a ser chamada “Curva da Bruxa”), Emerson sentiu o carro engasgar por falta de combustível. Uma bomba elétrica suplementar conseguiu extrair do tanque seus últimos vapores para as curvas seguintes e, embalado pela descida da reta dos boxes, Emerson conseguiu cruzar a linha de chegada em terceira marcha. Foi a segunda vitória consecutiva de Emerson na McLaren, que já havia vencido o GP do Brasil em Interlagos e aberto o caminho para, ao fim do ano, se tornar bicampeão mundial de F-1.
Wilsinho Fittipaldi teve problemas de embreagem a partir da 10a volta e foi ficando sem freios durante a corrida, mas ainda assim conseguiu chegar em quinto lugar, após muita disputa com Jochen Mass e Hans Stuck Jr, da BRM.
Elogios ao autódromo
Em sua narrativa de corrida à revista Quatro Rodas, Emerson chegou a dizer que “se transferirem o GP do Brasil para Brasília, não haverá problema algum”. Declarou que o autódromo era “muito bom” e “um dos melhores do mundo, muito seguro”. Emerson apontou que as curvas eram rápidas, feitas a mais de 160km/h, e as retas curtas, o que exigia muito do piloto e o obrigava a aumentar sua concentração. “O piso é bom e o traçado também, pois é difícil de dirigir, difícil de andar rápido”, disse o campeão.
Curiosidades
- Wilsinho Fittipaldi conseguiu um patrocínio local do Grupo Slavieiro e correu com um adesivo azul da empresa nas laterais do seu Brabham.
- Na época, as equipes e a organização da Fórmula 1 costumavam contratar mecânicos e fiscais de pista (“bandeirinhas”) nos locais onde o circo se instalava. O caso mais famoso do GP de Brasília foi o de um jovem mecânico contratado pela equipe Brabham – Nelson Piquet, que já era piloto no kart e nas corridas de rua locais. Uma das suas tarefas era limpar as rodas do carro do argentino Carlos Reutemann – que, sete anos depois, Piquet derrotaria para conseguir seu primeiro título mundial na F-1.
- O jornalista automobilístico José Roberto Nasser, que na época cobriu o GP de Brasília para o Correio Braziliense, conta, sempre rindo, um episódio que ocorreu quando ele estava num carro com o piloto francês Henri Pescarolo: ao parar num posto de combustíveis para abastecer, o frentista, com forte sotaque carioca, com forte sotaque carioca, olhou para o piloto e imediatamente soltou: “E aí, Peschca??”
Resultados
Final | Piloto | Largada | Carro | Resultado |
---|---|---|---|---|
1 | Emerson Fittipaldi (BRA) | 2 | McLaren M23 - Ford | 40 voltas, 1h15m22s75 |
2 | Jody Scheckter (AFS) | 3 | Tyrrell 006 - Ford | 40 voltas |
3 | Arturo Merzario (ITA) | 5 | Iso Williams FW1 - Ford | 40 voltas |
4 | Jochen Mass (RFA) | 8 | Surtees TS16 - Ford | 40 voltas |
5 | Wilson Fittipaldi Jr. (BRA) | 7 | Brabham BT44 - Ford | 39 voltas |
6 | Howden Ganley (NZL) | 10 | March 741G - Ford | 39 voltas |
7 | Henri Pescarolo (FRA) | 9 | BRM P160E | 38 voltas |
8 | Jean-Pierre Beltoise (FRA) | 6 | BRM P160E | 38 voltas |
9 | José Carlos Pace (BRA) | 4 | Surtees TS16 - Ford | 35 voltas |
10 | Hans Stuck Jr (RFA) | 11 | March 741G - Ford | 34 voltas |
11 | Carlos Reutemann (ARG) | 1 | Brabham BT44 - Ford | 11 voltas |
12 | James Hunt (GBR) | 12 | March 731G - Ford | 4 voltas |
Referências
Revista Quatro Rodas, Editora Abril, fevereiro de 1974 (http://quatrorodas.abril.com.br/acervodigital/home.aspx)